POETA MALDITO

Versos românticos nem pensar,
sairiam mentirosos,
soariam falsos,
sou poeta dos esgotos,
fazendo versos escrotos,
rimando sapo com saco,
pirado com tarado,
inspirado nas culpas, putas,
nos vômitos dos bêbedos
nos muambeiros, macumbeiros,
sou menestrel dos becos,
das espeluncas e guetos.
Inspirado nas feridas pútridas,
vomito versos fétidos,
no velho centro velho,
da minha Paulicéia opressora,
dos trens suburbanos lotados,
passageiros dependurados,
rostos esqueléticos desfigurados,
esmolando desonrientados,
desempregos e misérias estampadas.
Sou o poeta urbano, mundano,
alheio ás flores, néctares e méis,
ornado de sacos de lixo,
amado pelos os vândalos,
e escroques da boca do lixo,
sou o menestrel dos bordéis,
das meretrizes e quartéis,
sem bordões para os bundões,
ignorando a falida burguesia,
não faço poesia clássica,
minha poesia é imunda.
de dejetos a alma inunda,
sou um poeta dos horrores
inspirado em entulhos, bagulhos,
cacos de vidros, invés de flores,
confundindo musa com medusa
porque só conheceu desamores.

LIvro: Quase Póético
Editora CEPE (1994)