Autobiografia de poeta
Talvez eu seja poeta
Causa de ter crescido
Numa casa no reboco
Pedinte das cores
Que eu inventava do alto
Da goiabeira eu comia
A fruta como o mundo
Com casca e semente
E saltasse as janelas
Sempre mais abertas
Ao quintal e às ruas
Talvez de amarelo
Eu pintasse a chuva
Pra molhar o corpo de lua
Para ser sua Nunca minha
Que nad’aposso Só caminho
Com animais me chamando
Desde sempre pelos olhos.
Mas nunca foi vendo que vi
Tocando e me sujando
Aprendi a sentir
Dar, doar e doer
Em misturas de acordes
Pra que o som do mundo
Fosse esse do vento
Que me sopra a vida
E espera da trama
O embaraço das linhas
O chão florido das tardes
A passagem do dia à noite
Em ondas de mar e areia
Que invadem a cidade
Quebram na garganta
Das horas e me banham
Dessa espuma branca
Que eu bebo no poema.