MONÇÃO

Sempre perguntam quem sou,

digo e ninguém acredita.

A resposta é sempre a mesma,

mas fica a dúvida maldita.

Sou o que mente e que jura,

o que esculpe a pedra dura,

a asa que bate ganhando altura,

sou liberdade e clausura,

companhia e solidão.

Sou o que fica e o que sai,

o que chega e sempre vai,

sou egoísmo e candura,

sou miséria, sou fartura,

fome e sede, vinho e pão.

Sou o que sobe e o que desce,

o que manda e o que obedece,

o que pede e o que oferece,

o que xinga e faz a prece,

apedreja e esconde a mão.

Sou o que fala e o que cala,

o que diz sim e diz não,

o que magoa e o que sente,

silêncio esperando o grito,

sou pecado e sou perdão.

Sou tudo que foi descrito,

julgamento e veredicto,

sou compassado e aflito,

sou tudo e nada, infinito,

um dia seca , outro monção.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 27/12/2017
Código do texto: T6210013
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