A Palavra
A palavra não me engana
Nem eu engano a palavra
A semente lavra o pensamento
Para colheita da mente sana
Quem se iludi um momento
No outro não se engana
Perdoem minh‘alma poética
Que tem sina de cigana.
A palavra não me fere
Nem eu firo a palavra
Ao que me refiro
Estando fechado não abra
Não suporto fingimento
À sombra da dissimulação
Desculpem minh’alma patética
Quando clama por perdão.
A palavra não me assusta
Tampouco eu assusto a palavra
Exalta-se cada vez mais manso
Insiste calmamente brava
A lua espelha-se no remanso
Quem vê não pode resistir
Não julguem minh’alma frenética
Que insiste por insistir.
A palavra não me acusa
Nem eu acuso a palavra
Quanto mais eu a cultivo
Tanto mais ela me lavra
Livra-me do apelo indolente
Pois sabes que não irei resistir
Inocentem minh’alma dialética
Só uma palavra irá me remir.