A LENDA DA ESTRELA ZONZA

Reza a lenda que uma menina

Daquela aldeia de pescador

Tornou-se estrela vespertina

Ajuda a quem busca o amor

Ela nasceu à beira da praia

Saltava as ondas do mar

Sorriso faceiro no rosto

Alegria espalhava no ar

Canga, miçangas no chapéu

Entoava suaves acalantos

Erguia os braços ao céu

Em oferenda aos santos

Ela cresceu brincando na areia

Olhar brilhante, par de faróis

À noite ofuscava a Lua Cheia

De dia confundia Girassóis

Mocinha cheia de encanto

Primeiras paixões ensaia

No infinito seguia a sonhar

Desconhecia o desgosto

Ela chamava a atenção no cais

Presença meiga e delicada

Aguardava as embarcações

Acenava à chegada dos navios

Quantos corações vazios

De solitárias madrugadas

Perdidos em tentações

Queriam dela muito mais

Declarações apaixonadas

Promessas, tesouros, riqueza

Cruzeiros com todo conforto

Macias camas, fartas mesas

Ela vivia um conto de fadas

Buquê de rosas de surpresa

Entre tantos outros presentes

Um dedicou-lhe uma poesia

A paixão joga essas sementes

Apesar do verso meio torto

Comparava ao mar sua beleza

Seduziu-a perdidamente

Ela foi tomada pelo amor

Tempos de carinhos às desmedidas

Entre ancoragens e despedidas

Contava os dias nas pétalas de flor

Felicidade é fugaz desatino

A dor anda de braço com destino

Barco e vida afundam num acidente

Ela ficou zonza de pavor

Ela passou a zanzar ao léu

Caminhada de inútil esperar

Em luto de esperança cruel

Babel na cabeça fora do ar

Ela passou a zanzar na areia

Entoava canto de sereia

Silhueta nua, gestos e sinais

Quem sabe ele surgisse do mar

Ela passou a zanzar no cais

Na solidão da madrugada fria

Da bela mulher, imagem sombria

Quem sabe ele voltasse um dia

Ela passou a zanzar no porto

Acenando com o olhar vazio

Seu amor jamais seria morto

Quem sabe ele estivesse no navio

Seu zanzar tornou-se habitual

Diário e doloroso ritual

Iniciava seu verso preferido

Quem sabe ele completasse o final

Nunca mais viu seu amor querido

Partiu... o viver perdera o sentido

Na aldeia até hoje há quem jure vê-la

Zanzando no céu, feito uma estrela

Rumo aonde o céu une-se ao mar

Basta segui-la para o amor encontrar

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 25/12/2017
Reeditado em 25/12/2017
Código do texto: T6208217
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