Serenas nuvens e outras duas

Serenas nuvens

A manhã, banhada em sol tímido,

Rufam os tambores do tempo,

Que as nuvens sempre serenas,

Sempre vindo,

Nem podem ver a própria majestade,

Nós podemos,

Mas partiremos em breve,

Sem destino ou cidade,

Sem nacionalidade,

Nuvens que eu vejo sempre,

Enquanto o meu tempo passa,

Eu desintegro em vida,

E elas renascem,

Fênix, ou o liquido sagrado,

Em direção ao firmamento,

Ou ao nada,

No vão de um grão-silêncio, absurdamente calado

Saudades me contam abertamente,

E eu releio os versos passados,

Vejo folhas caírem, e eu caio em mim,

Mais propósito, mais desprezo pelo ódio, e pelo competir.

'Capitalista' sonhador e outro trovador

Consome-se em sonhos,

Os consome, nas vendas, das cidades, em seus centros,

Em sorrisos, risonhos, em esperanças, em preços camaradas,

Em doces, salgados, azedos,

Quando está em promoção,

Capitaliza-se-tem oportunidade,

Moedas, cédulas, cifrões, não lhe bastam,

Precisa da essência, mais que o símbolo,

Precisa do corpo, mais que o dígito,

''Capitalista'' sonhador,

Consumista de andanças, de alegrias, de amor

Resistir ou existir

Os dois, por favor,

Resistindo ou existindo,

Resistindo ao tudo, se consumindo, te consumindo,

Indivíduo e só, em sua luta,

Empurrando a maré, e ela, bruta, o engolindo aos poucos, e vencendo,

E você, morrendo, por tanto viver,

Resistindo à existência,

Quer ser pra sempre, diz que terá paciência, que nunca enjoará de si mesmo, que nunca haverá nunca, será sempre, uma eternidade,

Mesmo quando se esquecer, mesmo quando se lembrar, depois de tanto morrer/e renascer, que será o infinito,

Mas acorda e vê que apenas resiste, que é apenas um grito,

Que é a primeira resistência, que somos os primeiros rebeldes, de um mundo de penitência, sem piedade,

Re-existência, somos nós, pobres mortais,

Re-existimos, se somos mais que um, se existimos em dobro, se primeiro estamos, e depois somos,

Em sopros,

Em assombros,

Se é a soma da vida, que sempre subtrai,

De um todo só nosso, conquistado,

Mentira!! nunca o conquistamos, sequer o desejamos,

Até ao zero consumado, até aos ossos, revelados,

No ócio e mesmo assim resiste,

De tão frágil, de tão perturbado,

As mentiras até soam verdadeiras,

Quer esquecer que a vida não tem eira,

Que só vive quem resiste,

Quer apenas ser, mas ser, já é muito mais que um deslize...