OBRIGADO MINHAS SAUDADES
Saudade é golpe tardio,
gosto sem cor, rastro sem cheiro.
Tem tentáculos vorazes,
esquisitos, ressuscitadores,
assustadores.
Das minhas saudades lembro pouco,
pois se dissiparam nos meus ventos novos
e morreram de vez.
Foram vilãs nos meus dias,
ervas daninhas encravadas na alma,
tecos bizarros que só quero longe,
bem longe,
Mas também tiveram seus trunfos,
suas glórias, seus momentos de Deus.
Pois fizeram com que entendesse
que alguns chãos são atrozes,
que alguns sangues têm furor,
que algumas vidas têm feitor.
Das minhas saudades
reverencio cada vértebra,
cada degrau, cada pétala,
cada acorde.
Sem elas não teria me agigantado
nas minhas trovoadas,
nas minhas folias,
nos meus reinados,
nos meus repentes de cantador.
Sem as saudades
seria apenas um ser humano
e nada mais.
A saudade salgaram meus medos,
respingando minhas angústias pontiagudas,
colocando meus desejos para sonhar.
Foram elas que me fizeram entender
as várias faces do querer-bem,
os elos que unem as vontades,
a cantoria que enebria a fé.
Obrigado minhas saudades
por nunca terem fugido do seu posto.
Obrigado mesmo.
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