DISCURSO ALOPRADO
Ando feito louco,
grito, fico rouco,
é tanto sufoco
não dá pra aguentar.
Um dia de pódio,
uma noite de amor
a paz passageira
o perfume, a flor.
um instante de sorte
um tempo de dor.
O dorso na lona
chicote no lombo,
às vezes levanto
noutras levo tombo.
A multa, o castigo,
o pão que não vem.
O milagre esperando
a fartura do amém.
O apreço, o desprezo,
o que não convém.
O poeta sem versos,
os seres do além.
O discurso aloprado,
a tristeza enfadonha,
o olho sempre vendado
escondendo a vergonha.
A boca amordaçada,
na garganta o nó
e a imensa certeza
de estar sóbrio... E só.
Saulo Campo- Minas Gerais