O Mundo
se eu pudesse dizer tudo
de todas as coisas do mundo
diria, na verdade, muito pouco.
o mundo não é da linguagem.
o mundo é dos sentidos e dos sonhos.
o mundo é muitos e também único
porque inteiro palpita;
pulsa, milagroso.
e como explicar um milagre?
milagre é uma felicidade
que não se pode entender.
foi muito rápido:
de repente, estava lá.
e não havia mais jeito
de ser de outro jeito.
era o mundo inteiro
repleto de flores e de frutos.
questiono-me:
quem foi o primeiro
que perguntou "por que"?
"por que o mundo?
por que eu no mundo
e o mundo todo em mim?"
o mundo é um horizonte diante dos olhos
onde se caminha.
e antes da palavra "caminho"
já se caminhava.
havia sempre a busca
porque havia a curiosidade.
daí nasceu a linguagem:
da curiosidade, da avidez
pelas perguntas mais primeiras
que seguem sem resposta:
"como? por que?"
e sobretudo: "quando?".
dessa sede de saber
nasceu o tempo
que criou o passado, o durante,
o adeus e o recomeço.
ao fim de tudo, nasceu a poesia
capaz de sentir
os pulsos da terra
dos mares, das veredas
e dos seus mortos.
a poesia é o fruto mais suculento da criação:
assim como o mundo,
surge não se sabe como
e existe não se sabe o porquê...
é feito um milagre, apenas.