Apocalipse
Quando criança
fui dono de um balão
que tinha um dom
de explodir tudo
TUDO
se tocasse o chão
mas era um bom coração!
meu balão
e bailava no ar
com a respiração
tão presa
e o ar lá dentro
tão raro temendo
de abrir o portão
do fim do mundo...
Foi numa dessas
que sem portas
principiou a vida séria
dita adulta
e o que tenho agora
é um balão obscuro
pesado
de risadas forçadas
humilhações
adultérios
orgulhos
sobre a cabeça...
Ah se os de agora
me vissem dançar
como eu dançava
naquela outrora
dono do balão!
guardador do apocalipse!
me julgariam
herói por um segundo
anjo por um relance
e então seguiriam
nos seus trotes
cheios de mansa ingratidão.