Afogo-me na vida...

Cá entre nós, viver é um processo laborioso. Há quem diga que a vida é um turvo inferno e os demônios felizes por aqui estão inteiramente cegos.

A vida abre-me as janelas e me envolve com o perfume da terra junto às folhas secas que foram molhadas pela chuva. Tenho prazer ao pisar na areia molhada e arriscar-me perto das ondas.

Mas a vida nada satisfeita com as abafadas e repetidas batidas do meu coração lança-me ao mar, lança-me tão cruelmente que chego a ver de perto a mais bela fúria da natureza.

O mar lança suas ondas furiosas, abraça-me tão fortemente que me sufoco. Afogo-me, mas não em meus devaneios.

A vida está agora diante deste céu azul embaçado pelas águas do mar, um azul que perde a cor enquanto meus olhos adormecem. Daqui vejo por último os sonhos se reduzirem a pó, ouço as palavras que nunca foram ditas se afogarem inconformadas por nunca serem ouvidas.

A vida sussurra-me novamente, me leva de volta à terra dos inconformados para que eu possa me afogar em devaneios e viver amores perenes.

Afogo-me na vida, não no mar.

Carolina Duvir
Enviado por Carolina Duvir em 19/12/2017
Reeditado em 16/03/2021
Código do texto: T6202550
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