Afogo-me na vida...
Cá entre nós, viver é um processo laborioso. Há quem diga que a vida é um turvo inferno e os demônios felizes por aqui estão inteiramente cegos.
A vida abre-me as janelas e me envolve com o perfume da terra junto às folhas secas que foram molhadas pela chuva. Tenho prazer ao pisar na areia molhada e arriscar-me perto das ondas.
Mas a vida nada satisfeita com as abafadas e repetidas batidas do meu coração lança-me ao mar, lança-me tão cruelmente que chego a ver de perto a mais bela fúria da natureza.
O mar lança suas ondas furiosas, abraça-me tão fortemente que me sufoco. Afogo-me, mas não em meus devaneios.
A vida está agora diante deste céu azul embaçado pelas águas do mar, um azul que perde a cor enquanto meus olhos adormecem. Daqui vejo por último os sonhos se reduzirem a pó, ouço as palavras que nunca foram ditas se afogarem inconformadas por nunca serem ouvidas.
A vida sussurra-me novamente, me leva de volta à terra dos inconformados para que eu possa me afogar em devaneios e viver amores perenes.
Afogo-me na vida, não no mar.