PRA ALÉM DE TODO O SEMPRE

A pena tem pés estridentes, mãos aveludadas,

voz ácida, e cheiro esquisito.

Quando acorda se alastra como praga,

fica atônita buscando abrigo,

fica sagaz aprumando seus guizos.

Ela pouco dorme, pouco respira, pouco desfia,

vive num balaio destravado que nunca se desnuda,

sabe como ninguém nos reduzir às migalhas de pó.

Por vezes nos abraça afetuosamente,

calidamente, possuidamente,

como filho recém tirado do fogo cruzado,

como escória travestida de versos cabisbaixos, amordaçados.

A pena tem lábios carnudos, pele sedosa, olhar refugiado,

parece algo que nunca vai nos molestar, quem dera,

parece algo meio morto, esquecido, desprezado diria,

quem dera.

A pena é limbo afiado, revoando nos nossos chãos sem pedir licença,

nem perdão,

fazendo a gente virar do avesso cada querer-bem,

nos deixa apodrecer a céu aberto sem ninguém pra acudir,

nem sorrir.

Ela entende nossos desfalques, nossos pulos ocos,

nossas crostas ainda por cerzir, ainda por fecundar,

como pranchas só esperando pularmos ao mar para deleite dos tubarões.

A pena se entende, se basta, se conserva,

é aquilo que ainda iremos flertar num baile qualquer,

é aquilo que engatamos na nossa alma pra além de todo o sempre.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 18/12/2017
Código do texto: T6202341
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