SEGUIR

tão claramente incoerente

digo de ser-me em mim

como tento parecer ser

ser-me

de mim por mim pra mim

ser-me,

seguir em frente despistando as dependências

o inferno, os outros,

os cacos de vidro

cravados em baixo das unhas de me pé

um rastro vermelho

que não existe mais

porque decidi, bestialmente,

não olhar mais pra trás

enquanto me cego e

me esquivo e

corro desesperadamente e sem ritmo,

o sol vai tragando o asfalto

impregnando como nódoa

o leite [vermelho]

derramado

tão claramente incoerente

digo de ser-me assim

destoante, destoado,

querer-me estar suspenso,

só que desamarrado

à medida que como légua

e bebo o futuro no gargalo

mais de passado minh‘alma se embebeda

mais tornam a doer meus calos!

mais redonda parece a Terra

mais eu rodo em torno de mim

mais a poeira das estradas

de terra vermelha

mancha meus pulmões