EM CARNE-VIVA

gostaria de vender minha idade

ao jovem idiota que sonha com a seriedade

ou ao velho que tanto sonhou

que hoje precisa de anos mais

p'ra deixar herança

não posso carregar sobre os ossos tanto peso

ou você pensa que se descobrir

em carne viva sem armadura

não deixa à mostra, mais que a pança,

a verdade dura?

a voz é pedra esparramando cólera

aponto desastres ao profeta

e busco a bagagem cheia de coelhos

relampejando magias tiro

navios-pirata do baralho

como se viver rebelasse divindades

abrindo fendas no teto

por onde estrelas afogam o quarto

delícia dos suicidas e dos energumenos