Desalento

vem dos muitos eus o gosto esconso e devasso do abandono

o tempo tecido de instantes morosos

a dúvida levantando-se do medo das noites antigas

a agonia onividente

na clausura a tristeza cantando por entre os ferros da cela

o silêncio arrependido da culpa

o asco escorrendo pelas sombras bebidas do dia

a melancolia premente inventando vazios momentos

a esperança que espera e não chega

a distância que não começa e já cansa

a barca da solidão à deriva

barco a ser queimado

o ígneo passos dos meus caminhos sem volta

a lua cheia suspensa e estendida

prisioneira e esquecida na insolência dos astros

o desassossego dos cães latindo na madrugada

a madrugada acordada, emboscada, esperando pela manhã

a inércia observando e absorvendo a vida que morre em versos tímidos

a vida que dorme o sono inócuo

prostrada nos templos incandescentes

silogismos a me definir no nada que sou

e me assuntam na fluida lágrima

que liga a palavra à palavra

que me visitam embriagadas e trôpegas

num engano de eternidade

que me faz grito vago

noite outra vez