Renúncia

o que eu fui dorme nos tempos,

nas noites

sem respostas,

invento palavras,

espera-me no instante que me olha longamente

e tem a minha alma naufragada em sensações

na sucessão de sombras e gestos

no silêncio incriado dos cansaços

na fome do amor dado aos pedaços

no acalanto e na solidão de tantos braços

na vida sedenta

gritando renúncias

para uma imagem velha

num antigo e esquecido espelho

neste momento de ausência e de prenúncios

nestes dias transitórios

e macerados pelos quatro elementos

e pela melancolia devoluta e intocada

que ressumam os ébrios sortilégios dos meus dias