PROS MEUS 25 ANOS DE CASADOS

Quero tentar entender

o que os ventos desparafusam,

o que as mãos dissimulam,

o que o coração acena.

Quero tentar descobrir

onde estão aqueles vulcões esperados,

onde estão aqueles néctares apregoados,

onde estão aquelas portas desejadas.

Quero tentar traduzir

os encardidos nos corações

as migalhas nos ecos,

as fronhas corcundas do prazer.

Quero tentar dissecar

o que as palavras putrefazem,

o que os olhos dissimulam,

o que a fé tenta fazer ninar.

Quero tentar sentir

as querelas puídas do querer-bem,

as fagulhas inocentes do envelhecer,

as porradas incautas da paixão.

Quero tentar sacudir

os hímens descarados da dor,

as vísceras falidas do abraçar,

as comédias embriagadas de todo dia.

Quero tentar eclodir

os filhos não paridos que me restam,

os gozos coalhados que me atracam,

as valsas desesperadas que me laçam.

Quero tentar ressuscitar

os versos maltrapilhos que fiz ser,

os dengos esquisitos que fiz padecer,

as tetas desfalecidas que fiz sofrer.

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