A escravidão da razão

o homem embosca e deturpa sonhos

abre-os pela metade

passa os olhos viciados e soturnos

e deposita-os no chão

cego de tantas certezas

descarta-os

palmilha medos

enganos

bebe venenos

aspira gases

corre do tempo

preso ao destino

apega-se ao supérfluo

desintegra a matéria

e grita "Heureca!"

o homem perde o alento

no passo incerto e lento do vento

soçobrando nas areias

a andar por caminhos penosos

pelos tempos da memória ancestral

e indecomponível

como o Universo que une o verso

e o homem

siderando o passado

com infrangíveis amarras

com os olhos resignados no chão

e o engano ingente e coagente

da escravidão da razão

morre

entre cansadas certezas

e o grito estancado da solidão