NOITE

Sinto a noite pulsar na minha boca

as pupilas cegas da lua a brilhar

um brilho tosco, fosco, fugidio

sinto as estrelas, como dedos

movendo a solidão em que caminho

nos espaços longínqüos e vazios

Logo o perfume da poesia

o doce aroma dos versos diários

sobe aos meus olhos trêmulos, cerrados

ouço a música das coisas que acordam

sobre o corpo negro da terra

e a voz do vento distante

e a voz dos rios viajantes

E a noite está dentro de mim

como um pássaro negro e tristonho

que ergue as asas no coração do sonho

ouço a música das folhas que tombam

o tropel das nuvens que passam

e a minha voz que se eleva

como uma prece na planície solitária

Então sinto a noite fugindo de mim

sinto a noite correndo dos homens

e o sol que avança na garupa do mar

e as nuvens claras que enchem o céu

como grandes corcéis de fogo cor-de-rosa

desaparecendo, sugados pela treva

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 22/08/2007
Código do texto: T619527