NOITE
Sinto a noite pulsar na minha boca
as pupilas cegas da lua a brilhar
um brilho tosco, fosco, fugidio
sinto as estrelas, como dedos
movendo a solidão em que caminho
nos espaços longínqüos e vazios
Logo o perfume da poesia
o doce aroma dos versos diários
sobe aos meus olhos trêmulos, cerrados
ouço a música das coisas que acordam
sobre o corpo negro da terra
e a voz do vento distante
e a voz dos rios viajantes
E a noite está dentro de mim
como um pássaro negro e tristonho
que ergue as asas no coração do sonho
ouço a música das folhas que tombam
o tropel das nuvens que passam
e a minha voz que se eleva
como uma prece na planície solitária
Então sinto a noite fugindo de mim
sinto a noite correndo dos homens
e o sol que avança na garupa do mar
e as nuvens claras que enchem o céu
como grandes corcéis de fogo cor-de-rosa
desaparecendo, sugados pela treva