Zeus por Clítoris[1] está enamorado.
No mesmo metro, formosa e pequena,
A princesa a Zeus se entrega serena
Em máscula formiga transformado.
Mais forte que o amor sempre proclamado,
Mais sagaz que a paixão – mórbida pena -,
O desejo fabrica qualquer cena
Para fartar-se no que é cobiçado.
Com a paixão o homem persegue, enlaça.
Inseticida, amor segrega, afasta.
Insone, o desejo convence, arrasta.
Desejo é licor; paixão é cachaça[2].
Com desassossegos, vãos embaraços
Dos amores sobram tão-só pedaços.
(Soneto publicado no livro "Coletânea Imortais II", da Academia de Letras do Brasil ALB, 2018, Ed. Alternativa, - Porto Alegre, p. 243).
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[1] Princesa dos Mirmidones – guerreiros da Tesalia meridional, criados por Zeus a partir de formigas e descendentes do rei Mirmidón (filho de Zeus e da bela princesa Eurimedusa); acompanharam Aquiles na guerra de Tróia, segundo as narrativas da “Ilíada” de Homero. Aliás, na sedução e posse sexual da princesa, tanto Zeus como Eurimedusa metamorfoseam-se em formiga.
Tanto Ovídio em “Metamorfoses” (Livro VII) como Higino, na Fábula 52, relatam a transformação das formigas em homens guerreiros, feita por Zeus e a pedido do rei Éaco (filho de Zeus e Egina).
Tanto Ovídio em “Metamorfoses” (Livro VII) como Higino, na Fábula 52, relatam a transformação das formigas em homens guerreiros, feita por Zeus e a pedido do rei Éaco (filho de Zeus e Egina).
[2] No sentido comparativo, o poeta considera o licor mais nobre por causa da composição dos ingredientes com marcantes sabores selecionados (sementes, frutas, ervas, flores, nozes e especiarias) e dos óleos essenciais e extratos adicionados para a composição dos aromas.