Sinto-me caído em um sonho de Buñuel

Sinto-me caído em um sonho de Buñuel

com paisagens delirantes de Salvador Dali

esqueço meu nome e grito contente com um transeunte cadáver

que recorta a minha sombra e derrete relógios

e destrói o tempo

Uma mariposa nasce e formigas constroem túneis

fico sem minha mão e brigo comigo ao ver

minhas atitudes meus desejos minha paralisia

Não suporto o desprezo mas corro para a rua e caio

minhas roupas foram jogadas fora e uma multidão se formou

Não quero mais nada repinto sons e as cores voltam

Acordei, é certo, mas o que vale tudo isso

despisto meu desejo e componho uma canção

faço dessa religião um novo (des)compasso

O cansaço chegou: viva!

Mortos podres pobres mortos podres que invadem sonhos alheios

(des)enterraram uma caixa que estava bem

Estacionada no fundo de um inconsciente bem (in)(e)estável

Coveiro distraído que não protege seus pertences

Resistência!

Gosto de palavras de ordem por sua específica (in)utilidade

e que fica ecoando em gritos em gritos em gritos...

não reconheço meu (auto)retrato elitizado

pois já não são meus olhos que sorriem

Te vi correndo na praia esperando a próxima onda

que se aproxima com a primavera entre os dentes

enchentes!

Cheio de esperanças vazias joguei fora meus sentimentos

e rompi um lacre (in)desejável

e morri arrastado por um louco instável que se encontrou consigo mesmo

Uma música constante toca no ar

e perdi minha boca minha voz

16/06/2011

Adilson Ventura
Enviado por Adilson Ventura em 05/12/2017
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