Eu sou um homem negro no Brasil

Aqui neste país

Terra dos coronéis

O negro morre

Um, dois , três, morrem dez

Não, não é por dia

Isso é por minuto

Ter filho negro aqui

É estar sempre de luto

E esse é o "meu" país

Esse lugar tão bruto.

Mas, não me dou descanso

A cada dia me levanto

Vou em frente e luto

Luto essa minha luta

Batalha financiada

À minha própria custa

Essa guerra desregrada

Pro negro sempre muito injusta.

E a cor da minha pele

É o grande problema

Por isso você me repele

Pois não sou como você

Para o sistema.

Mas vou, mesmo de luto

Lutando a minha luta

Vou soltando o meu grito

Que alcança o infinito

Mas, ninguém o escuta.

E minha luta prossegue

Essa peleja inglória

E o negro não consegue

Aqui qualquer vitória.

Negro! negro!

Por favor se apegue

A tantas memórias

Dos teus infelizes

Negro! negro!

Por favor não negue

Tua grande história

As tuas raízes.

Tua vida segue na mala

De algum mandatário

Que todo dia rouba

Teu ridículo salário

E em vez de pagamento

Oferece-te uma bala

Que há todo momento

Em alguma esquina estala

E é assim que ainda ecoa

O chicote do feitor

E aos ouvidos sempre soa

Muito grito de horror

Grito que jamais se cala

Portanto, levanta! fala!

Resista a esse senhor!

Não aceite essa senzala!

Quando eu falo assim

Sei que tu, branco, não gostas

"Pra quê isso?" É o que dizes

Mas, não são nas tuas costas

Que estão sempre expostas

Vergonhosas cicatrizes

Nem qualquer remorso sentes

Do barulho das correntes

Em que ando aprisionado

Isso pra ti tanto faz

Pois é no sangue de meus pais

que tu tens sempre pisado.

Agora vá!

Saia já, é o que te peço.

Corra e pegue o seu ingresso

Pra que minha morte assista

Nesse teu país racista

Pois isso é o teu progresso.

E eu, que tenho sido o teu lixo

Pois vivo aqui como bicho

Sem espaço para estar

Eu, servilmente me sento

E com ouvidos atentos

Obrigo-me a escutar

Um discurso sem essência

De quem vive de aparência

E cheio de todo o engano

Uma vez a cada ano

Vem falar de consciência.

Vá pra tua cama

E tenha bons sonhos

De felicidades

Porque já me chama

A luta incessante

Pela minha liberdade

E digo a verdade

Sinto-me cansado

Mas eu não desisto

Até morrer resisto

A esse injusto estado.

Ah! E quem sou eu?

Sou um filho de rei

Aqui servil

Se você não entendeu

Eu sou um homem negro

No Brasil.

Francisco Adenilson
Enviado por Francisco Adenilson em 04/12/2017
Reeditado em 04/12/2017
Código do texto: T6189465
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