AOS MEUS TANTOS CORDÕES UMBILICAIS

Minha história tem tantos cordões umbilicais que perdi a conta.

Olho pro chão pisado e vejo mundos amontoados, milhões deles.

Minha memória já desgastada murmura que está feliz.

Valeu a pena cair, me esburrachar nesse chão raivoso,

valeu a pena acordar num vendaval que parecia dizimar tudo que fosse

criatura viva.

Valeu a pena ter enfartado minha alma, ter enferrujado meu suor,

ter destroçado meus sonhos - um a um, sonho após sonho.

Foi desse jeito que me fiz agigantado como nunca ousei supor.

Minha história tem choros que não chorei,

mágoas que deixei escorrer sem passar pelo meu flerte,

desejos que pareciam rastros de algodão perdidos num bafo tardio.

Na minha história não cabem ninhos encardidos, acredite.

Acabei sendo refil dos meus próprios desfalques,

feito capacho que de tanto se pisado, ficou limpo.

Minha história tem traíras travestidas de paixão,

tem ciladas parecendo bênção,

tem cadafalsos se fazendo passar por Deus.

Minha história não tem métrica, não tem rima, nem alamedas coloridas.

Mas ela respinga o tenor estrondoso de uma vitória,

e que vitória!

Ela parecia atracada num fosso, mas que nada: era brilho só,

se fingindo de nada só pra não fazer sombra.

Minha história é a de um cara que nunca se acovardou

diante dos gozos adversos do destino,

que nunca desistiu de seguir sua sina, por mais enroscada

e cruel que fosse, como de fato foi.

Um cara que sabe que, quando merecer, subirá num podium

esculpido especialmente para mim - e pra mais ninguém.

Minha história ainda não se fez nascida,

ainda não se fez regada, nem brindada, nem untada.

Aguardo minha estreia neste furdúncio que chamamos de vida.

Para me aplaudir de pé com todas as alegorias que puder fazer valer

de dentro de mim.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/12/2017
Código do texto: T6189163
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