RÉQUIEM
RÉQUIEM
Pôr do sol
Confiro-me no espelho
Sobrevivi
Pés calçados
Quando estarão descalços
Quem sabe
No pôr do sol da existência
A noite avança
Versos vem
Controversos
Unem-se em desunião
O frescor e o bolor
Passam pela vista
O quintal e o jasmim
Os cães a lamber a boca
A cobra cega entre os pés
O cágado que some
As borboletas que namoram
As flores nascidas no chão
Marias sem vergonha
Encantadoras em sua pobreza
Áureos tempos
Da boca que sentia fome
Dos nadas a comer
A cabeça que se saciava
Das letras que escorriam
De livros doados
Consumidos um a um
Apressados famintos de saber
O chão de tábuas corridas
Estalava sob pés
Que procuravam saída
Da infância sonhadora
Para a adultice estulta
Que ora se desenrola parca
Desimportante
Pelo passar dos dias
Ora curtos ora longos
Cheios e vazios
Qual maré
Da cidade natal
Que vai e vem
Sem nunca estar
Num sempre amanhã
Que restará?
Quem sabe?
Pouco importa
Falta pouco
Fecha-se a porta