RÉQUIEM

RÉQUIEM

Pôr do sol

Confiro-me no espelho

Sobrevivi

Pés calçados

Quando estarão descalços

Quem sabe

No pôr do sol da existência

A noite avança

Versos vem

Controversos

Unem-se em desunião

O frescor e o bolor

Passam pela vista

O quintal e o jasmim

Os cães a lamber a boca

A cobra cega entre os pés

O cágado que some

As borboletas que namoram

As flores nascidas no chão

Marias sem vergonha

Encantadoras em sua pobreza

Áureos tempos

Da boca que sentia fome

Dos nadas a comer

A cabeça que se saciava

Das letras que escorriam

De livros doados

Consumidos um a um

Apressados famintos de saber

O chão de tábuas corridas

Estalava sob pés

Que procuravam saída

Da infância sonhadora

Para a adultice estulta

Que ora se desenrola parca

Desimportante

Pelo passar dos dias

Ora curtos ora longos

Cheios e vazios

Qual maré

Da cidade natal

Que vai e vem

Sem nunca estar

Num sempre amanhã

Que restará?

Quem sabe?

Pouco importa

Falta pouco

Fecha-se a porta

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 01/12/2017
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