Onde nada acontece

Afogado em emoções fantasmas, eu me lembro do que nunca aconteceu

Um vazio se abre na garganta e expande a dor afora, não sinto nada.

Prometo mudança, mas somente encontro diferentes maneiras de ser eu mesmo

Eu estou em mim.

Tudo que faço é encarar o mundo

Melhor: deixo-me ser encarado, nos olhos, até o peso sentar em minha espinha

E fraquejo e paro e penso e só

Penso

Tudo acontece aqui dentro.

É tudo real demais para que eu tenha a coragem de mover um sonho

Estagnado vejo o acontecer

E vejo que não é para mim, não pode ser, de jeito nenhum

Eu não posso, eu não consigo, eu não tenho ideia de como se acontece.

Quanto mais gente tenho à minha volta mais estou sozinho

Eles acontecem, e me deixam sem jeito.

É tudo eu, eu, eu e mais eu

Fechado no espelho, e não vejo nada.

Cercado pelos meus cabelos, meus membros, minha carne

Pela minha visão, pelo meu pensamento, pela minha falta de ar

O medo é a medusa que me desce pela garganta acima e prende meus movimentos.

Eu vi as flores. Eu sei como elas são. Eu conheço a forma de seu corpo.

Como não poderia? Fui eu que criei todas elas. No meu mundo.

Eu só conheço o meu mundo. As minhas palavras. O meu acontecer

Onde nada acontece.

Lumontes (Lucas Montenegro)
Enviado por Lumontes (Lucas Montenegro) em 30/11/2017
Reeditado em 30/11/2017
Código do texto: T6186012
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