OLHAR NÃO SE VENDE
Não, não posso vender n'um mercado,
um recado, recalcado do meu olhar.
Meu jeito, confiado meigo, ou...
Desconfiado, escorregando sem apego.
As imagens do meu olhar...
Não tem quilo nem metro!
Não se mede como arroba, braçadas,
centímetros, pesos tortos, ou retos...
O meu olhar, não tem adereços
não tem medida nem preço
talvez o certo e o avesso
daquilo que eu almejo ou mereço.
Eu vi com meu olhar...
O menino jogando pião
pulando corda, amarelinho...
O bonde carregado por carvão,
arrastando saudades, adeus e paixão.
Eu vi o peixe nadando n'água,
os pinceis pincelando anáguas
Os tons das coloridas araras
pelos cerrados capoeira e matas...
O caminhos andando pelas veredas
as águas se despejando das cascatas.
No meu olhar, eu vi...
A interrogação e armação do Bond
A fruta do conde
a lua do lobisomem
a tristeza do bicho homem.
Com meu olhar...
Eu vi o palco a sena
a campanha política a zica,
desenrolando a fita da velha gangrena...
as manhãs orvalhadas de neblina
o pote indo a cacimba
a moringa, cheia d'água da mina.
Não posso vender o meu olhar,
nem o que nele contem...
A maciez do apego o pelego
o quadro de uma pintura no prego
os lampejos do lampião
o rego d'água desfilando no ribeirão.
Eu tenho no meu olhar...
As rugas do tempo
as areias sobre os ventos
a ampulheta sorvendo o sentimento.
Eu vejo a rua o outono
a primaveras com suas flores
o inverno verão...
A conhecida estação do ano.
O arco-íres na paleta...
As letras, envelhecendo na tabuleta
as passadas sobre as calçadas
as manhãs todas enfeitadas
as tardes nuas...
A linha do equador o meridiano,
os meninos rodando carrapetas
e as meninas despenteadas na sua.
Eu vejo no meu olhar...
Aquela imagem guardada,
da Guanabara da, Las Vegas, paris
o semblante explicito na cara
d'aquela lagrima feliz.
Antonio Montes