SEM RETORNO
SEM RETORNO
Piso no chão que me pariu
E não o reconheço
Não vejo mais meu começo
Não vejo trilhos de bondes
Que me levavam a lugares
Não vejo mais os lugares
O horizonte morreu
Ou agoniza
Em pedaços entre arranha-céus
A casa onde brincava na terra
Ruiu
Agora é pombal germinal
A vala sumiu enterrada
Asfaltada
Seu Domingos da venda
Da caderneta
Do caixote de bacalhau
Virou pó
O carrinho de rolemã
Foi transformado
Em motor envenenado
O campinho é condomínio
Foi-se o gramado
A bola de capão
Agora é orgulhosa Maison
Sei lá das quantas
Minhas entranhas
Ficaram estranhas
E vou ao mar
Tentar lavar ou purificar
O que me resta
Do pouco que presta
Encontro a areia
A criança que brinca
Que constrói castelos de areia
E vira as costas
Para ir-se
Enquanto o castelo
Não resiste a próxima onda
Apenas a memória resiste
Triste
Pelas perdas que ninguém sente