SEM RETORNO

SEM RETORNO

Piso no chão que me pariu

E não o reconheço

Não vejo mais meu começo

Não vejo trilhos de bondes

Que me levavam a lugares

Não vejo mais os lugares

O horizonte morreu

Ou agoniza

Em pedaços entre arranha-céus

A casa onde brincava na terra

Ruiu

Agora é pombal germinal

A vala sumiu enterrada

Asfaltada

Seu Domingos da venda

Da caderneta

Do caixote de bacalhau

Virou pó

O carrinho de rolemã

Foi transformado

Em motor envenenado

O campinho é condomínio

Foi-se o gramado

A bola de capão

Agora é orgulhosa Maison

Sei lá das quantas

Minhas entranhas

Ficaram estranhas

E vou ao mar

Tentar lavar ou purificar

O que me resta

Do pouco que presta

Encontro a areia

A criança que brinca

Que constrói castelos de areia

E vira as costas

Para ir-se

Enquanto o castelo

Não resiste a próxima onda

Apenas a memória resiste

Triste

Pelas perdas que ninguém sente

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 28/11/2017
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