Espinha dorsal do espírito

Na espinha dorsal da verdade

Se curva o fato, sem piedade

Todo ser sabe, quando o encontra

Dói e abre a pupila, a retina desatina

A vivacidade desponta

O pensamento pesa, e preso a realidade

Ficamos imersos nessa insanidade

De acreditar no cochicho dos sentidos

Ou no grito dos desejos incompreendidos

Apáticos e porém, tão fortemente sentidos

Que nos obrigam ao caos ter lealdade

Sendo a inteligência artifício dos bons e dos maus

Também há de ser o mesmo a burrice

O pavor disso, meu endereço

Eterno sintoma de recomeço

Descrente à qualquer crentice

A dor, e a esperança

A decepção, a nostalgia e a lembrança

Querendo ainda ser valioso presente,

Do futuro eterno e ausente

Do sorriso do amigo indiferente

Que parece deboche, e deboche é

A verdade é que estás nu e a pé

Numa estrada vazia, sem destino ou moradia

Debaixo da noite e do dia, como quem acredita

Chegar no seu aconchegante lar

Da sua roupa se livrar, amar e tomar um café