SESSENTA

Já fiz sessenta

Agora sou adulto

com formação de velhice e tudo.

É... Cheguei aqui, estou vivo sim!

E tudo que aprendi...

Aprendi com o mundo.

Apanhei de palmatória...

Meu pai, mina mãe, não passavam

a mão sobre a minha cabeça,

e hoje eu agradeço-os, pois com isso...

Aprendi a ser da hora

e não dá cesta.

Penei com meu indulto de vida, mas

aqui, poderei ampliar a maluquice

... Ser velho, é querer ser jovem criança...

Até brinco de esconde-esconde

pena que hoje, a minha

parceira, é a tão esperada saúde.

Aprendi a temer a esperança,

voar na paranóia...

D'aquilo que hoje tornou-se grude.

Recebi um bilhete do presente...

Usando óculos de graus,

e mãos tremulas...

Eu li as cláusulas dos meus apegos...

Minhas manias

meu tempero curto

o silencio p'ro meu pensar...

E o chorar pelo viajar

dos novos defuntos.

O bilhete me chamou de museu

e ainda disse que as coisas...

As minhas coisas!

São misturas, mais que eu.

Ora bolas... Mas que bilhete audacioso!

Eu já fui criança, jovem feliz,

Ao comer, já mordi, pedaço de carne

segurando-o com, as minhas mãos...

Já brinquei de bola de gude,

já tive pião, estilingue, bola peteca

já pulei corda muro amarelinho

já rascunhei o mundo

apenas com um pedaço de giz.

É... Já fui feliz, sim, sim!

Muito feliz.

Antonio Montes

Amontesferr
Enviado por Amontesferr em 26/11/2017
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