Cidade não comum.

Cemitério, cidade não comum em que moram os exemplos e as vergonhas da cidade comum. Padres, advogados, coronéis, lixeiros, macumbeiros, indigentes, médicos, altruístas e estupradores. Vassalos e servos, lado a lado em igual profundidade de ser, ou melhor, de estar. Porém, acima das ossadas, nomes. É o nome que particulariza o bom osso do mal osso, é o nome do osso que indica qual tumulo deve ser revisitado com orgulho, devoção, rememoração, saudade, amor, raiva, curiosidade, violação. E para os sem nomes, sem cruzes e tumbas? O não reconhecimento, esquecimento, o nada e, principalmente, a grande e infeliz capacidade de ocupar espaço com sua não existência. Cemitério, cidade não comum em que os ossos ostentam jazigos, bons e brilhantes azulejos, portas, portões, grades, jardins, canteiros, flores, jardineiros, vigilantes. Cemitério, cidade não comum morta reflexo da cidade comum viva.

Sebastião Monte Moreno
Enviado por Sebastião Monte Moreno em 25/11/2017
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