MEU ACENO VORAZ DE GLÓRIA

Gosto de tocar meu tempo

sentir seu sangue, sua fuligem,

seu gosto sem gosto.

Gosto de desnudar meu tempo

abrir suas trancas, acender seus foliões.

deixar tudo desarrumado,

desmamado,

destocado,

desnudo.

Gosto de camuflar meu tempo

suas nervuras misturar num molho só

suas garras alforriar

seus folguedos celebrar,

delícia.

Gosto de ludibriar meu tempo

suas pegadas confundir

seus ventres acudir

sua mão entender.

Gosto de flertar com meu tempo

esquecer seus donos, suas amarras,

seus engasgos sem anzol.

Cada teco de solitude submersa,

cada verso bizarro ensaiado

cada nuca novata abençoada

cada Deus distante atarantado.

Gosto de cuspir no meu tempo

afligir suas ventosas, seus porretes,

deixar cada grão enlouquecido,

prostrar as rédeas do meu canto surrado,

virar bruxa no meu curtume,

virar bálsamo no meu pelourinho,

virar rei na minha decantação.

Gosto de fecundar o meu tempo

deixar sua barriga crescer depois do mundo,

fazer seus fardos aluviarem meus gargalos,

deixar suas larvas sorrirem até morrer.

Romper cada farpa fugida que houver,

tourear as manhãs, meus torniquetes de fé,

rasas estrepolias deste pobre refugiado,

que agora encena sua maior fisgada,

meu canto de redenção,

meu aceno voraz de glória.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 25/11/2017
Reeditado em 25/11/2017
Código do texto: T6181681
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