Dos Sonhos
Melífluo o canto do pássaro
que se apoderou do lúmen das estrelas
e contornou toda abóbada celeste
para compartilhar seu trinado comigo.
Ao ruflar suas asinhas chispam raiozinhos
assemelhando-se a um círio, no ar se projeta
e me leva um punhado de sonhos
que trazia em meu embornal:
eu os guardava como se estrelas fossem.
Não armei minha tenda de nuvens em flocos
mas esperei ansiosamente a quentar sol,
meu corpo espraiado na campina verdejante.
Não sei exatamente as horas, mas a tarde avança.
Apenas sei que inspiro contentamento,
até que o pássaro de asas em chamas
retorne ao ponto de partida
com o meu embornal enxameado de sonhos.
O sereno da noite já me arrepia a pele.
O pássaro alumiado entorna com o seu biquinho
a água do recipiente posto à janela,
e conto um a um meus sonhos devolvidos;
estão polvilhados de neve...
abraço-os calorosamente
e escancaro as cortinas para banhá-los
de estrelas.