Vão de Dor
Eu estive nos meus lugares interessantes
todos estiveram nos seus
compartilhar onde estivemos
é ocupar o mesmo lugar
ocupe então o papelão esticado no sol
abandonado com um copo de plástico deitado
pinga entornada
noite fria e hora demorada
dormida
noite achada dentro de um fusquinha
cão vigiando
amizade nova
parece que tem anos
ocupe o lugar daquele que abandonado
dorme sobre um galho
com medo de gato
o mesmo que forçou
sua solidão
comendo seu amor
devorando sua paixão
num pulo de susto
que até agora haja coração
abrace o ser que você não seja
seja sem ser
perceba então a lua do outro lado do muro
se pondo atrás do telhado
o sol azulando o céu
o canto do pássaro
o pingo do galho
o dia que de repente
chegou vagarosamente
o sangue que se renova no pulmão
pega impulso no coração
ocupe seu lugar
leve oxigênio
para o gênio que inventou a palavra
amar
mamãe
papa
ocupar o viver
não há como estar sem dá trabalho
ser feliz e sorrir sem sofrer
ocupar é bom
mas o outro lado da moeda
é você
o outro lado do muro
é onde você não está
sua falta ocupa um lugar
não como viver sem faltar
não há como viver sem ocupar
mas vamos ocupar
essa palavra
com alegria
força e amor
para que o outro lado da vida
não seja em vão
de dor