A UM POETA
poema pronto não tem fome
para o poeta é poema morto
para o leitor atento
o poema pronto
é um tipo vivo
leitura
pede complemento
faminta é a poesia
que
nos consome
*
incômoda
neblina
cobre um olho
enquanto
a trave entre os cílios
do outro
pisca um cisco
retira, pinça, limpa e olha
se veja, se olhe e repare
devolva
límpido
cristalino
olhar em volta
e agora
tome nota
do que falta na sobra
do que ninguém mais
fala
*
porque
menos triste
é rima infeliz
como se
mais feliz
já fosse
desencanto
fala
e escreve
e faz vibrar
por dentro
nervosa
ou mesmo aflita
a corda
vocálica
de uma
determinada fibra
metálica
da poesia
*
*
Baltazar Gonçalves