Nuances Abruptas
Vilipendiada, minha sorte se esvai
na estiva onde se finca meu ancoradouro.
Núpcias com a noite interrompidas, ai!
aves grasnam soturnas - mau agouro!
Vésperas de sonhos interrompidos
segredos se infiltram nas vielas do cais
suores frios e langores desmedidos,
tanta sangrenta mudança a não saber mais.
Inviolada, porém, mantém-se a minha alma
comedida em seu manto de alvos bordados.
A maré resvala nas rochas, numa outra se espalma,
intriga os habitantes noturnos, severamente acordados.
Meu peito é um infante que restaura as dores fragorosas
sem inflamar nada que demoradamente se recupere
seja o talo suscetível ao vento das rosas,
seja o tempo irritadiço com o anseio que não o espere.
E assim, no esquálido rastejar das horas,
o cansaço me destoa e enfada meus pensamentos
meu torso se divide em sólidas toras,
que me protegem dos sabres pontiagudos contidos nos momentos.