Nuances Abruptas

Vilipendiada, minha sorte se esvai

na estiva onde se finca meu ancoradouro.

Núpcias com a noite interrompidas, ai!

aves grasnam soturnas - mau agouro!

Vésperas de sonhos interrompidos

segredos se infiltram nas vielas do cais

suores frios e langores desmedidos,

tanta sangrenta mudança a não saber mais.

Inviolada, porém, mantém-se a minha alma

comedida em seu manto de alvos bordados.

A maré resvala nas rochas, numa outra se espalma,

intriga os habitantes noturnos, severamente acordados.

Meu peito é um infante que restaura as dores fragorosas

sem inflamar nada que demoradamente se recupere

seja o talo suscetível ao vento das rosas,

seja o tempo irritadiço com o anseio que não o espere.

E assim, no esquálido rastejar das horas,

o cansaço me destoa e enfada meus pensamentos

meu torso se divide em sólidas toras,

que me protegem dos sabres pontiagudos contidos nos momentos.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 22/11/2017
Código do texto: T6179527
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