Amor II (in: Flor em Flama)
Amor,
Ferida deliciosa
Que nunca cicatriza.
O coração,
Tenho-o perfurado
E envenenado
Por esse aguilhão
De róseas plumas.
Tem o Amor a leveza do céu
Por sobre os ombros de Atlas;
O peso de uma brisa matinal
Nos montes pastoris
De uma província
Assaz longínqua.
Nunca fora a cicuta tão doce
Depois que do Amor provara eu.
Nunca os doces frutos de inverno
Me foram tão azedos
Desde que tomei o Amor
Como vício.
O Amor é doença
Da qual só sentimos os sintomas
Nas suas últimas instâncias,
Sem cura, sem volta.
É o ar
Que, ao mesmo tempo,
Dá-nos vida
E impõe-nos a morte
Por destino.