NAS VÉRTEBRAS ADUNCAS DE CADA VÃO DA SUA ALMA
Tenho um obtuso impulso de bagunçar palavras. Faço isso como um serviçal fiel que nunca arreda pé do seu posto. As palavras são para mim figuras misteriosas que vagam dentro de mim na surdina dos pensamentos. Algumas delas são mentoras de sentimentos pouco avistados, como cédulas avulsas de um torpor que ainda não traguei. Outras são estrondos gritantes do que estou gestando nos meus úteros tantos. Palavras vêm das quebradas camufladas que arraigamos, inaptos, como foliões atônitos por um boca-a-boca que nos traga à vida. Palavras se mostram leopardas, se dizem fechaduras, se despertam bruacas ensandecidas nesta coisa chamada de vida. Pra mim são bem mais ricas do que o ar que levo boca adentro. Muito mais que isso. Palavras se desnudam sem cerimônia, arrancam seus dentes puídos sem pedir licença, fazem o diabo quando lhes der na telha. As vejo como flancos de sangue enervado traçando cheiros, gostos, jeitos, tudo. Elas me desmatam, me fecundam, me reviram do avesso gargalhando sem parar. Adoro dissecar seus veios, adoro arrancar os fiapos da sua razão. Adoro enlouquecer as vértebras aduncas de cada vão da sua alma. Quando faço isso estou, por certo, afiançando meus galopes, ranços e toda infinita alegria de estar pelas bandas daqui.
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