FAZENDO DEUS PERDER O RUMO

Felicidade é ter alma desarmada,

os olhos acordados, a fé não embalsamada.

Felicidade é saber onde mora o vento,

e entender por onde andam as vértebras da certeza.

Felicidade é ser capaz de digerir as entranhas do medo

e nunca abandonar a vigília do querer-bem.

Felicidade é saber sacudir o candeeiro das dúvidas,

e ter a sabedoria de perdoar quem nos fagulhar de dor.

Felicidade é permanecer vivo diante dos torpedos da angústia,

semeando luz nos umbrais mais nefastos dos homens.

Felicidade é traduzir o que as membranas da saudade murmuram

e entender que são meras membranas - e nada mais.

Felicidade é atirar longe os estopins da derrota,

virando do avesso as rebarbas que de nada mais prestam.

Felicidade é ter capacidade de superar os próprios engodos,

as próprias falcatruas, os próprios fundos falsos.

Felicidade é não fugir do pó das manhas borradas,

dos fardos mal ajambrados e das querelas pouco aflitas.

Felicidade é ter no peito algo que faça Deus perder o rumo,

como um auto-legado de retidão e paz.

Felicidade é poder esculpir frases como se estivesse construindo

uma obra-prima e nela depositasse todo seu suor, toda sua raça,

todo seu encanto.

Felicidade é isso. E nada mais. Nenhum tiquinho a mais.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 13/11/2017
Código do texto: T6170406
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