OS ESTRANGEIROS
Nem tudo é poesia neste país
Nem tudo é carnaval
Nem tudo é futebol
Nem tudo é samba
Nem tudo rima com dignidade
Ou sequer com liberdade e democracia...
“Pero Vaz, dónde vas”, se nem sabes
Por onde caminhas? Estrada de duques,
De condes, deu no que dá no reino das
Bruzundangas, das mugangas e das
Medidas provisórias, sem métricas, aéticas,
Antiestéticas, ilusórias, escalafobéticas...
Ah! falta de sorte do vate ao ter nascido nestas terras
De aquém-mar, onde se legisla a dor com despudor
O que leva a nação à inação, ao triste fado, ao desatino
De ser grande e ser pequeno menino tupiniquim
Frágil, tão frágil assim, com dor de barriga, dor de dente
Dor de intriga, dor de ferida antiga que não para de sangrar...
Desde os mil e quinhentos e lá vai fumaça que essa sina
Não passa e assassina com sanha o destino de quem
Tem apenas o medo por enredo e também o desengano
Esse laço, o nó insano que sufoca a garganta
Uma tristeza de chicote sobre o lombo
Quilombo dos pesares - dos czares, dos césares? – dos azares
Que zombam de todos nós que ficamos no assombro
No susto do custo de vida que nos custa tanto
- e ainda por cima nos fazem de bobos na corte...
E dançamos todos nós.
O samba no pé, a tristeza na cara.
A bola rola e somos verdadeiros campeões
- da safadeza e da corrupção.
Nem tudo é país neste carnaval.
Aqui a cartola sai do coelho.
Aos de fora, rezamos e dobramos o joelho.
E de nós mesmos somos estrangeiros.