É tarde
É tarde, talvez
para tudo o que tarda
de vez.
Ou para tudo o que cala
e entala lá dentro
no centro da fala.
Tarda nas horas do dia
a pouca poesia entender
o breu dessas palavras,
os ecos, os fatos, os cacos,
os restos, os rostos, os rastros,
o sorriso nos retratos,
as sobras nos pratos
e o tanto prazer de se fartar
nesses maus tratos.
Carregar umas vontades fracas,
de umas quase verdades,
umas rimas pobres,
essas primas podres
de um lirismo tosco,
no fosco da paisagem,
a beira do abismo,
o fundo do poço
depois do próximo passo.
Não.
Nada é simples
na vida, no sonho,
no medonho da fantasia,
no enfadonho da poesia,
na pobreza da realidade
que é sempre tão menos
que a necessidade.
Nada é simples,
nem a alegada simplicidade.
Tudo é forçado, complicado,
no intricado de nascer, viver, morrer,
sempre nesta mesma absurda ordem
definitivamente caótica e difícil
de compreender.
O mais simples seria não escrever,
esquecer talvez,
quando tudo tardar de vez.
Ou calar mais uma vez.
(10/11/2017 – 08:21)