É tarde

É tarde, talvez

para tudo o que tarda

de vez.

Ou para tudo o que cala

e entala lá dentro

no centro da fala.

Tarda nas horas do dia

a pouca poesia entender

o breu dessas palavras,

os ecos, os fatos, os cacos,

os restos, os rostos, os rastros,

o sorriso nos retratos,

as sobras nos pratos

e o tanto prazer de se fartar

nesses maus tratos.

Carregar umas vontades fracas,

de umas quase verdades,

umas rimas pobres,

essas primas podres

de um lirismo tosco,

no fosco da paisagem,

a beira do abismo,

o fundo do poço

depois do próximo passo.

Não.

Nada é simples

na vida, no sonho,

no medonho da fantasia,

no enfadonho da poesia,

na pobreza da realidade

que é sempre tão menos

que a necessidade.

Nada é simples,

nem a alegada simplicidade.

Tudo é forçado, complicado,

no intricado de nascer, viver, morrer,

sempre nesta mesma absurda ordem

definitivamente caótica e difícil

de compreender.

O mais simples seria não escrever,

esquecer talvez,

quando tudo tardar de vez.

Ou calar mais uma vez.

(10/11/2017 – 08:21)

Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/11/2017
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T6167901
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.