PRECIOSIDADES (79)
Ah, não me venham com teorias !
Eu vejo a desolação e a fome,
as angústias sem nome,
os pavores marcados para sempre
nas faces trágicas da vítimas.
Eu sei que vejo,
sei que imagino apenas uma ínfima,
uma insignificante parcela de tragédia.
E, se visse, não acreditava.
Se visse, dava em louco ou em profeta,
dava em chefe de bandidos,
em salteador de estrada,
- mas não acreditava !
Eu sei que vejo
os homens, as casas e os bichos.
Olho num pasmo sem limites,
e fico sem palavras,
na dor de serem homens
que fizeram tudo isto:
esta pasta ensanguentada
a que reduziram a terra inteira,
esta lama de sangue e alma,
de coisa a ser,
e pergunto numa angústia
se ainda haverá alguma esperança,
se o ódio sequer servirá para alguma coisa . . .
. . .
Deixem-me chorar - e chorai !