A Procura de Mim

Enreda-se a linguagem

Na teia da inexpressividade

Mordaças de fios invisíveis

Vão cerzindo o cotidiano

Com linhas puídas e desbotadas

No olhar, um hiato

Um profundo vagar

Ausentando-me de mim.

Onde o alcançar-me?

Na indiferença dos lábios,

Diálogos de ocasos.

No dia que se derrama

Uma palavra que deserta

Preenchendo o silêncio

E ainda assim não ressoa

É eco órfão em outro olhar

A inequívoca surdez

Agride os tímpanos

Da pretensa cumplicidade

Na alma, apenas a frigidez

Enquanto soluçam na pele

Os afagos, beijos e carícias

Que se deitam nas noites frias

Em que o corpo deixa-se despir.

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 09/03/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T6167