SEMEADURA I e II
SEMEADURA I
Não vislumbra destinatário voz sem rumo para surdos,
na semeadura necessária não avista logradouro nem campo semeado.
Adormecido tão bonito como um deus morto,
a gleba do rancor é o coração dos homens
: leira, canteiro, corpo inebriado, aorta entupida.
Até os ombros plantados no chão
na extensão verde monocromático
desdobram-se dálias vermelhas
entre ervas boas e as daninhas.
É certo que há correspondência entre a mão e a fome
entre semeador e talho no árido campo fértil
onde entorpece até certo ponto o coração do homem.
A voz que não vislumbra nem avista aqui resiste,
no prumo de seta é forja incandescente no tempo.
De outra era igualmente inconstante soa metálica
vem derretida no crisol, sêmen pólen de poemas.
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SEMEADURA II
Esse deserto já foi uma floresta mas agora é sombra do incerto.
Sabe o semeador, por isso insiste no canto dos pássaros.
No descampado o canto das aves sinaliza a fome,
é a música das sementes sopradas no vento.
Se a palavra não mata no homem a fome,
as aves indicarão a perspectiva ao canto.
Por isso o canto é o campo,
território do corpo semântico.
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Baltazar