TRIVIAL DA PALAVRA
A palavra passa, como brasa de fogo a carvão
e cinza, passa peluda careca enrugada lisa...
Passa tremendo bradando um fado ou um
brado do som que avisa... A palavra passa na
boca santa e nos dentes das bocas malditas...
pelas poesias recitadas sermões e conselhos...
no piscar do mundo, ou pelo olhar do espelho
No solitário de flor ou... No enigma do amor.
A palavra de segredo, passa calada muda
bocejando nos lábios nos lados nas retas nas
goelas no timbre dos ouvidos d'aquele que ouve
d'aquele que fala sussurra ou d'aquele que surdo
grita. A palavra é um dizer, uma dita uma dica
ela ferve gela, ela tempera, como se fosse açúcar
e a colher em uma xícara de chá... Ou, tagarela
que destempera, como o rugir de fera acuada em
em noite de trovoada d'água com enxurrada
levando as almas exortadas... A palavra passa pelo
tempo, pelas ruas e pelas praças, passa, pelos
museus dos milênios como traças... Passa pelas
águas dos oceanos flutuando em garrafas e madeiras,
passa pelos charcos ou pelas filas de idas e vindas
... Pelas fumaças dos fumos, pelas raspas dos
tabacos, pelos humos, ou como os ventos sem
trela... Passa pela passarelas da vida carregando-a
as épocas perdidas, passa, pelos cais, pelos trilhos
fauna e flora dos jardins, passa por ai, por ti e por
mim, passa pelo sul pelo norte, pela tic-tac da
morte... A palavra um dia falou... Falou com a mão
da despedida com a lagrimas dos olhos e com o
olhar do riso do tímido e do desencilho...
A palavra passa pelo mundo, nas bocas de quem
o fez e o faz surgir... A palavra mora perto...
E vive longe daqui.
Antonio Montes