Meninos enxadeiros
É finados.
O cemitério cheio.
Cheio de choros.
Cheio de lembranças resignadas.
Cheio de orações.
Na parte alta do cemitério,
Onde se enterram os pobres,
As covas não são bem demarcadas
E o mato invade terras,
Que escondem terras e ossos.
Chegam os meninos enxadeiros,
São três e são novos.
Sandálias lhes protegem os pés
E cada um ostenta a camisa
De seu clube preferido.
Na simpatia esportiva,
Certamente são rivais,
Mas se irmanam na luta pela vida,
Trazendo seu trabalho de limpeza...
No dia da festa de todos indesejada,
Sem alarido, se oferecem
Pra passar a enxada e deixar a terra limpinha
E pronta pra receber num cantinho
A vela, a flor, a dor...
O serviço não tem preço,
Cada um dá o que pode.
E a enxada vap, vap
Vai cortando muito mato
Aqui, ali, acolá,
Dando dignidade àqueles bolsos
Com o dinheiro colhido da morte.