ESTERCO ROBUSTO
A lágrima descia feito sorriso rasgado,
assim um tanto rameira, um tanto triunfal.
Percorria os quinhões da minha face feito barata-deusa,
entorpecida pela dor que a fazia viver.
Sentia seus tentáculos aglutinando meus guizos,
feito suor emparedado em noite surrada de outono,
feito grão perdido do seu véu original.
Era lágrima astuta, com panca de juiz da Corte,
um tanto deflagrada nas suas ancas de valsa tosca,
um tanto fingida nos seus arredores mais sutis.
Mas, mesmo assim, a fazia ninar, e até cantarolar,
versos desconexos de algum viajante qualquer,
restos de comida nos dentes, cheiro de incenso no ar,
via tudo rodopiar numa folia de matagal.
Então, mais esfomeado do que asa de urubu,
me descasquei deixando todas farsas entremeada num talvez,
esquecendo que um dia fui capaz de viver,
de ser capataz, de ser hímen, de ser gente, de ser pão,
me revertendo das anáguas dos coloridos vinténs paridos,
sacudindo até sair tudo de mim, tudo mesmo. Mesmo...
Nestas horas, o que é vão vira réquiem,
o que é piedade vira bolo de fubá,
o que é camada vira descaso, vira vira criado-mudo.
Nas minhas ventanas de marujo desavergonhado,
vou catar o que sobrou da festa, da fresta, do fim,
como gargalhada alada querendo ar, querendo vingança,
como esterco robusto chamando por alguém,
como fado desaguado esquecendo de tudo.
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