ÚTEROS DE ANDARILHA

Amo a vida, toda ela,

tosca, purgada, arreganhada, apartada.

Amo a vida com todos seus unguentos,

com todas suas trancas frouxas, com seus chão bêbados.

amo sim. Sim e sim.

Amo a vida quando seus braços estão só carne-e-osso,

e a ferrugem virou minha água-benta,

e o grito que mais ouço é do silêncio.

Amo a vida com suas farsas, armadilhas, fundos-falsos,

quando faz dos homens seus relâmpagos de festim.

Amo a vida quando meus créditos estão por um fio

e aquela tranca que se dizia forte, fraquejou.

Amo a vida quando vejo anjos ainda imberbes no saguão da fé,

onde o mel que de mim ecoava parecia farpa traíra.

Amo a vida com todos seus truques, seus tiros de festim,

mas é esta a vida que me coube, em que eu merecia atracar.

Esta vida, um tanto exilada, um tanto maltrapilha, um tanto vadia,

ainda é a que me tem cativo nos seus úteros de andarilha.

É ela que me faz dormir, que troca minhas fraldas,

que dá o peito para que me farte de tanto mamar.

É esta vida à qual me curvo com absoluta servidão,

como se pouco tivesse deglutido dos meus porões mais sangrantes.

É esta vida à qual agradeço por ser minha tecelã mais terna,

mais linda, como é linda.

Te amo vida que me tem.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/10/2017
Código do texto: T6158423
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