ÚTEROS DE ANDARILHA
Amo a vida, toda ela,
tosca, purgada, arreganhada, apartada.
Amo a vida com todos seus unguentos,
com todas suas trancas frouxas, com seus chão bêbados.
amo sim. Sim e sim.
Amo a vida quando seus braços estão só carne-e-osso,
e a ferrugem virou minha água-benta,
e o grito que mais ouço é do silêncio.
Amo a vida com suas farsas, armadilhas, fundos-falsos,
quando faz dos homens seus relâmpagos de festim.
Amo a vida quando meus créditos estão por um fio
e aquela tranca que se dizia forte, fraquejou.
Amo a vida quando vejo anjos ainda imberbes no saguão da fé,
onde o mel que de mim ecoava parecia farpa traíra.
Amo a vida com todos seus truques, seus tiros de festim,
mas é esta a vida que me coube, em que eu merecia atracar.
Esta vida, um tanto exilada, um tanto maltrapilha, um tanto vadia,
ainda é a que me tem cativo nos seus úteros de andarilha.
É ela que me faz dormir, que troca minhas fraldas,
que dá o peito para que me farte de tanto mamar.
É esta vida à qual me curvo com absoluta servidão,
como se pouco tivesse deglutido dos meus porões mais sangrantes.
É esta vida à qual agradeço por ser minha tecelã mais terna,
mais linda, como é linda.
Te amo vida que me tem.
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