O outono nas palavras
Desfaz no outono o tempo de despedida...
Sei da pavorosa intensidade do frio
na pele e na superfície lisa do rio
Sei do vagaroso murmúrio
no passado quase mudo.
Sei dos dias de medo e angústias
das neblinas dentro das noites
paramentadas.
Sei onde guardam as túnicas
bordadas com fios de ouro
e pedras importadas do Egito.
Sei das echarpes encharcadas,
unhas polidas, cor do aço de Minas.
Escapam dos olhos, miram ilustres barões.
No silêncio cortam o reflexo das lágrimas
e das gotas aceleradas
da chuva de novembro.
O tempo desconstrói pensamentos e desejos.
Caem as palavras preguiçosas
nos açudes visitados pelo vento.
dissolvem-se nas planícies
o gelo da Antártica.
O tempo devora sonhos
vaporosos e enganos de anjos
nas trilhas da tua mão.
Ele nos acolhe,
mas cospe os
dedos frios
daqueles que estão embaralhados
nas múltiplas escolhas anunciadas.
Eles não importam com nada.
Afastam-se das cores e sentidos.
Achegam-se.
Iludem as palavras bem pronunciadas,
não causam nenhuma desconfiança.
Somos sensíveis e sonhadores...
Sabemos do outono nas palavras.