LOUCURA ENTUPIDA
Algumas paixões aglutinam, desmamam,
deixam a alma menos pegajosa,
deixam o tempo menos cruel.
Algumas paixões escorrem pelo tempo
como atônitas vozes clamando por alforria,
com véus desnudos se aconchegando pra dormir.
Algumas paixões nos levam à morte,
feito vilões matreiros de uma trama tosca,
que pouco perdoam, pouco relevam, pouco choram.
Algumas paixões são porretes de luz
que deixam Deus maluco, entulhando seu sangue de dor.
Algumas paixões nos viram do avesso,
destronam cada medo vil que tanto carregamos,
descarregam nosso rifle no viés da solidão.
Algumas paixões são tiranas, escancarando seus suores sem pena.
Fazem o vento virar pedra, deixam o sono menos fiel,
menos espinhudo,
menos fugido.
Algumas paixões dão fome, deixam a gente assim, perdido,
como vãos encardidos da mesma canção,
como lamentos esbaforidos de um poleiro de luz.
Algumas paixões são insanas, traquinas, loucas diria,
não uma loucura entupida, mas uma loucura descabelada,
afrouxada, lá de longe, bem de longe.
Falo delas com a boca em brasa,
com meu peito já esquartejado, finito, deportado.
São nestas fraldas maltrapilhas que me vejo agora,
meio chapado, meio surrado, meio menino.
Deste jeito que só uma gota poderá se fazer viva,
se dizer querida,
se postar eterna.
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