PRESÉPIO DE MEMÓRIAS
A cava esconde desejos insanos,
sonhos e planos de mãos calejadas
perdidos ao longo do caminho.
A mina ruidosa aos poucos silencia
nas profundezas do porão a céu aberto.
Quantas almas soterradas na lembrança.
Quantos abraços e beijos perdidos
em turnos de infinitas poucas horas.
Chibatas de veludo, silenciosas, preludiando o pão.
Um portal criando e dizimando esperanças.
Ser grande e ser tão pequeno.
Um anão em terra de gigantes.
O proletário soterrado num cemitério de sonhos.
A figura imortal do poeta regando novos versos
que brotam em torrentes caudalosas.
Tudo isso norteia minhas noites de insônia.
A esperança repousa num emaranhado de versos,
às vezes sem palavras amenas.
No balanço da rede embalo meu grito de alerta
que ecoa além de todo o vale do Rio Doce,
sobre um leito lamacento e triste,
enquanto o blue dust silenciosamente adorna meu leito,
eterno presépio de memórias.
Saulo Campos - Itabira MG